sábado, 14 de junho de 2008

MEU PAI

Meu pai não é calmo, odeia americano (de mentirinha) joga, bebe, fala palavrão.
Ele conta piadas horríveis, fala mal a própria mãe, é péssimo motorista (não no conduzir, ele é habilidoso ao volante, mas no trânsito usa mais a buzina que o pneu.
Meu pai quer sempre estar certo, se incomoda com tudo, fala alto demais, é impaciente.
Ele errou feio em suas convicções políticas, não admite o erro, o que é ainda pior (falo de eu estar certo com relação a FHC, e de ele estar errado com relação a Lula). Em relação a toda esquerda hedionda do Brasil.
Mas o fato é: nervoso ele é, mas incapaz da violência. Joga com absoluto controle, com muita habilidade, de modo que o jogo se torna charme, adorno à sua personalidade, não um estorvo em sua vida, nem dos que lhe são próximos.
Bebe, mas sabe beber. Onde muitos se tornam violentos, ele se torna emotivo como um sir “fallstaf”, como um “pangloss”, como um homem que sabe o peso e a dor de não ser eterno.
Fala palavrão e tira dele a pornografia. Fala mal a mãe tendo o olhar risonho dela o ser seu testemunho de que poucos homens no mundo podem se gabar de a todo lugar que foram, tiver levado sua progenitora.
Meu pai quase sempre está certo, e quando erra é por amor, e não há erro em quem erra por bem-querença.
Incomoda-se com tudo, contudo quem lhe recrimina por ser assim? Só quem não o conhece.
Fala alto, com voz tonitruante de sertanejo, de matuto.
Impaciente como quem tem pressa, por saber que a vida urge. Critica tudo por saber que tudo deve ser criticado.
Em suas concepções políticas errou onde todos erraram.
Não tento justificá-lo, não se trata disso. Quem melhor justifica meu pai é sua vida. O imenso carinho que ele nos dispensou durante toda a nossa existência.
Ele pode se gabar do que quiser (ele é muito palrador), mas um a coisa ele tem que supera o que poderia lhe diminuir o ser: o amor descomunal que dedica aos filhos.
Um homem nasce, vive e morre. Um homem é lembrado ou não. Um homem da à medida do que foram pelo amor que suscitou no(s) seu(s) filhos. A medida de um homem é a saudade deixada quando da partida. A de meu pai vai longe, muito longe, hoje sessenta, veremos o septuagenário, octogenário e por ai afora. Mas quando for, deixará em seus filhos a marca que se tem na pele feita a quente, feita em brasa.
Dos sessenta anos de sua vida, participo de quase trinta e três, e digo: pelo que sei, pelo que li, pelo que escutei, do que entendi, de onde eu andei, por onde eu saí aonde eu chorei, onde eu sorri que não há ser que eu ame tanto (junto com meu filho) quanto esse senhor que não é calmo, que odeia americano...

Amo-te pai, e é só.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais um pai honrado e digno e tal como eu, odeia americanos. Lindo o amor que você transmite pelo seu pai. Estava pensando em postar uma homenagem aos pais, mas pe difícil ter inspiração em pais verdadeiros como o seu é e como o meu foi. Se generalizar não posso, não posto.
ABRACEÕPOR MIM NO PRÓXIMO DOMINGO, DIA DEDICADO AOS PAIS.
Que ambos Pai e filho sejam sempre unidos e felizes.

Beijos

Mirze