domingo, 10 de maio de 2009

SUBLITERATICE LEVIANA.





Para Novaes é o Rosa, para todo mundo: Machado. Para mim é o Nelson.
Meu critério não é técnico, nem poderia, fui péssimo aluno, conheço a língua “de ouvido”, como disse, salvo engano, o Cony. Aliás, esse negócio de “salve engano”, é uma picaretagem lingüística, de doer. Significa, quem escreve dizer: estou certo mesmo errando, porque avisei que podia estar errado.mas , voltando aos meus critérios, digo que são o de reação emotiva. Reação de quanto aquele texto foi poético, dramático, ou pela verdade que atribuo ele.
O rosa me deslumbrou desde o começo, pela linguagem, tal qual ao mais erudito dos eruditos. Porque a única diferença entre um técnico das linguagens, e uma cara que leu o rosa, e só e tão somente, a capacidade de nomear as firulas lingüísticas.
O rosa tem o “ grande sertão:veredas” como seu livro máximo, e de fato é, mas “a terceira margem do rio”está para o rosa, como notas do subsolo ou subterrâneo está para Dostoievski. A terceira margem é um conto, que é poesia pura. A começar pelo título.
Marcelo acha Guimarães rosa, o maioral, eu não. Para mim, ele foi um gênio pela capacidade imensa que tinha no aprendizado de idiomas, sejam quais fossem. Podia aprender um idioma que não tinha a menor intimidade, em semanas. Fala mais idiomas que o que pretendia o pessoal da torre de babel. Então a capacidade de disciplinar-se, aliada a facilidade de desvendar línguas, criar outras, ou melhor recriar a mesma, fazendo do mesmo um outro. Dava-lhe uma vantagem. Enorme vantagem.
Machado de Assis, escreveu melhor que todo mundo, com muito mais talento, com muito mais capacidade para a escrita, com muito mais recursos criativos que os outros. Se for pelo critério estritamente literário, ele arrasaria o Nelson, tem mil vezes mais estilo que o rosa, e está à galáxias dos outros todos.
Machado, é sempre comparado com um grande romancista europeu, um grande esteta sofisticado demais para o Brasil, um psicólogo com mentalidade cosmopolita. O que é, errado, mas não só para ele, para todos. Eu não conheço uma grande obra, uma só, umazinha, cujo foco seja questões universais relevantes, até pela razão de que questões relevantes são sempre as nossas, não existe um consenso sequer dos males universais, que dirá solução para eles(alguém dirá: são os remédios! Os remédios tiraram o pouco juízo dele).
Memórias póstumas de Brás cubas, é um livro absolutamente genial, Quincas Borba é melhor que ele. Dom casmurro, é inferior ao dois, mas os três estão no nível de qualquer romance universal. Mas há muita coisa em machado que é superficial, externa, preocupada com a palavra, com a frase, em bem dizer a frase, coisa que faz mais sentido no rosa, porque era para isso que ele escrevia. Machado queria ser um psicólogo, mas com pretensões, legítimas, por ser um gênio, de ser um refinadísimo, estilista . saiu-se bem melhor como estilista, embora seja ótimo psicólogo.
Mas se a comparação for com Dostoievski, ele perde feio. Porque este sim foi um psicólogo superior ao que veio a ser chamada ulteriormente de psicologia. E um escritor sem uma preocupação aparente com o estilo, mas que obteve um resultado final superior a machado. Daí se dizer que Dostoievski era derramado demais, brega mesmo. E sempre se cita a passagem do livro “crime e castigo”, em que raskolnikov beija os pés de Sônia e solta a frase: “não beijei teus pés, beijei o sofrimento humano.” como sendo uma coisa brega. Uma burrice sem fim, que todo mundo parece aderir, ao confundir sentimentos, ou representações dele, com breguice, que é a banalização e a vulgarização do sentimento.
Machado era gênio. Mas Nelson era maior.
Nelson Rodrigues foi superior, porque era gênio em estado bruto, diamante sem lapidar. O raciocino dele era devastador. Suas frases eram geniais. Outro dia, um idiota da veja disse que ele era um grande frasista. O que é isso?
Nada. É apenas a tentativa de um babaca em querer diminuir um grande.
Mas o que me faz afirmar que Nelson foi o melhor dos três, é o fato de que nem o rosa, nem machado, sofreram qualquer tipo de retaliação por parte dos leitores. Nelson foi perseguido pela esquerda e pela direita. Por protestantes e católicos, por todo mundo. E convenhamos, quando esse pólos se unem para pichar uma pessoa, é porque ela é no mínimo ameaçadora à projetos imbecilizantes, de manipulação de massa.

5 comentários:

Adrianna Coelho disse...


PERFEITO, WELL!

ESCREVO ATÉ COM LETRAS MAIÚSCULAS PARA DAR ÊNFASE. ADOREI A SUA EXPOSIÇÃO, A MANEIRA COMO A FEZ, NEM IMPORTANTO SE CONCORDO OU NÃO. MAS ADMITO QUE A SUA CONCLUSÃO FOI ÓTIMA!

MUITO BOM!

Moacy Cirne disse...

Meu caro,
não sei se Nelson é o maior (particularmente, considero Rosa o mais importante de todos eles), mas, decerto, é um dos maiores. Um dos três ou quatro maiores. O que não é pouca coisa,

Um abraço

Unknown disse...

Uma verdadeira aula!

Sem dúvida, não saberia medir, pela diversidade de estilos.

Mas o Nelson, não tenho dúvidas.

É o meu preferido! Único! E sofreu realmente perseguições.

Muito bom!

Parabéns!

Beijos

Mirse

WELLINGTON GUIMARÃES disse...

DRI, ESTOU ME LIVRANDO DAS LETRAS MAIÚSCULAS. DESCOBRI O WORLD. ATRASADO, EU? ATRASADO É O NOVAES, QUE ME PERGUNTOU SE O WORLD FAZIA PARTE DO OFFICE.
OBRIGADO E BEIJOS. OU: UM BEIJO E UM QUEIJO.


MOACY,


TU NÃO SABE, E EU?
MAS O QUE ACHO É LEI. MINHA LEI.



MIRSE,

A ÚNICA COISA QUE POSSO ENSINAR É COMO PENSAR E FAZER BESTEIRAS.
UM BEIJO.

Marcelo Novaes disse...

Wellington,




Muito bom! Aprecio bastante o Nélson. Plínio Marcos também. Esse negócio de comparar gigantes é coisa de muitas facetas. Nélson criou um "tom" dramatúrgico, e uma fala cheia de cacoetes interessantíssimos. E tratou magnificamente dos mesmos temas n vezes, com aqueles cacoetes e frases que poderiam virar bordões pra qualquer pessoa, em muitas circunstâncias. Ontem e hoje. Isso NO MELHOR SENTIDO DO TERMO. Então, concordo com a descrição.


As conclusões são muitas. O Wellington "crítico literário" é bem interessante em suas escolhas, ângulos e vértices de observação. Um verdadeiro "geômetra da leitura".
Gostei!




Abração,








Marcelo.