ESSE É UM PEQUENO APANHADO DOS POEMAS DE MARCELO NOVAES, O QUE FAZ EU CRER QUE A POESIA NÃO MORREU, QUE A FONTE NUNCA SECA.
É só pra isso
que existem
olhos e
ouvidos.
Pra se ver o rosto
branco de quem
carrega o caixão
paterno.
Butoh
É como se eu acendesse,
vez seguida às tantas vezes,
sem que ninguém por mim
intercedesse,
a mesma faísca.
É como se eu me lembrasse
e rememorasse e tentasse
corrigir,
a primeira sílaba errada
da palavra que já engoli.
A túnica de Nessus
Já tinha passe-livre,
era clássico e free. Poema
banto, batuque e taoísmo,
nobreza de rei na hora da
perda do filho jovem, em acidente.
Já era cidadão quando não havia cidadania aqui.
Foi execer a sua em Londres,
O cravo e o sabonete
Eu sou a tua companhia secreta,
desde a sombra das idades.
Eu sou o Poeta dos poetas.
Sou a resposta à tua invocação
por um pressuposto bom,
até então ausente.
Eu sou o pressuposto,
o olho onisciente antes
do teu rosto.
Afasto o que te ameaça
a partir de dentro, desde
que me saibas em teu
íntimo.
É só o que peço,
que não restrinjas o meu espaço
e me consintas para que caiba
por entre as frestas do teu
desejo por tantas outras
coisas que não eu mesmo.
Eu sou o bem que, por enquanto,
só se vê de longe,
ainda que venha antes e anteceda
toda a tragédia que te constrange.
Eu sou o que vê por detrás de tua
face congelada, onde te olha a nuca,
quando te viras e não vês
nada.
O olho que te olha a nuca
Eu conto história de um
passado que eu invento,
talvez pra parecer um outro,
completamente outro, eu que
sou sombra, elmo e
escudo.
O escudo, o elmo e a sombra.
.
Do mar eu sabia a
bruma,não sabia a
lama.
Eu não conhecia o
pântano dentro do
mar.
Do mar eu conhecia
escamas, não a
ganga.
À imagem e semelhança
fez lembrar do verbo
quando sofre o sonho
ausente: íris sem
olhos,
tronco sem
membros,
boca sem
dentes,
dorso membranoso como
o de um
lagarto;
timbre e dicção
de dar nos
nervos.
A mulher verde
Eu não poderia,
jamais,
expressar
essas veemências
sentimentais,
que voluteiam e se
resolvem a si
mesmas,
e se dissolvem,
enquanto tais,
no instante mesmo
em que se
expressam.
Quaresma
Compreendi a fantástica
esfera
de lava e fogo
que mora na boca
do estômago.
Sentado,
beijei minha própria face
machucada,
dentro de minha
respiração:
A franja branca daluz
"Creio que muita coisa boa surgirá na Net. Não necessariamente publicada. Mas falada de boca em boca. Algo análogo à literatura oral, num primeiro momento. Oral-digital."
Maecelo Novaes em entrevista a Hercília Fernandes.
5 comentários:
Gostei da tua triagem, Wellington.
Obrigado.
Está lá o poema "Liturgia das Horas Enfermas". Mas fiz alguns melhores depois. Desses que exigem certa "coragem psíquica" ( "O Lugar do Tombo", por exemplo, exige isso). O título provisório é Kadosh. Outra alternativa é "Teia e Transfusão". Tem a extensão de "O Elmo, a sombra e o escudo". Fiz ontem. Mas sempre intercalo com uns mais curtos e leves, pra relaxar um pouco...Não se vive só de tragédias , nem de "minutos heróicos"...
Um abraço, e mais uma vez OBRIGADO!
Marcelo.
Acabei de fazer uma singela homenagem a Vinícius, inspirado por sua lembrança. De quebra homenageei um artista plástico que fez muitas capas de disco: de Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Vinícius, Chico, Toquinho e tantos mais: Elifas Andreato.
Abração,
Marcelo.
Queridos amigos. Voces se completam!Diria que Wellington é o gênio da ESCOLHA. Ele poderia ser aquele que aponta o caminho certo. Você, Marcelo poderia dedicar a ele um poema (sem pálpebras), cujo título poderia estar em branco. E nós, pelo menos eu saberia que era ele Wellington o homenageado, O Pastor de grandes poetas.
Aos dois meu forte abraço
Beijos
Mirze
MIRSE, ELE ME "DEDICOU O ESCUDO, O ELMO E A SOMBRA", EM SOLO SUBTERRÂNEO SE REFERE A MIM COMO "O VATE, O BARDO-COR-DE-ABACATE", EU AMEI AS HOMENAGENS.
Fala sério? "O VATE" Então acertou!
Você adivinha mesmo, mas antes confere. Não sabia o "Elmo" era dedicado a vocêVou reler.
Beijos
Mirze
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