Meu pai é chato, toda minha família o é. Minha família é brega e chata, menos eu. Mas mesmo meu pai, que é o chato-rei da família, perde para minha avó. Essa, ultrapassa o limite da chatice humana, porra! A chatice dela permeia o seu ser.
Minha avó reclama de tudo, está sempre de mau humor, e nós ficamos acostumados em ela ser chata demais, por isso sua chatice virou folclore, anedota.
Minha família é chata, tem poucos membros, todo mundo se chama de idiota, ironizam uns aos outros, minha família não briga, nunca, e se briga, desbriga logo. Minha família é chata, e eu já disse isso 300 vezes, o que pode levar alguém a achar que eu sou chato. E perguntar:- essa é a característica principal de sua família?
Não, de modo algum. Minha família tem uma característica, não morre. É isso, minha família não morre. Ninguém morreu até hoje. Minha família é um ovo, tem meia dúzia de membros, então não pode morrer, porque somos dependentes uns dos outros, somos parasitas amorosos, somos o amor.
Ok, semana passada meu pai ligou pra minha irmã, e quebrou o sonho, minha vó vai morrer, minha vó está com dois tumores malignos.
A morte de minha avó não é uma coisa estranha, não poderia se dizer um acontecimento inesperado, ela tem 86 anos. Eu choro muito, mas muito mesmo, porque ela é chata, nada mudará isso, mas é minha avó.
Esse é um texto ridículo, se eu lesse em um outro blog, se não tivesse escrito, acharia um horror. Mas minha vó, uma pessoa chata, vale para mim, dez shakespeares, e toda a literatura do mundo. A morte não redime pecados, mas faz ver que temos olhos curtos, somos frágeis.
Amanhã vou ver minha avó, dar-lhe-ei um abraço e pensarei mais no cuidado com os outros de minha família, porque no caso dela a morte avisou, na de outros pode não avisar. É idiota dizer: “nãopreciso dizer que te amo, você sabe que amo.”
Tem de dizer: eu te amo, pai, irmã, filho, amigo, cachorro, mulher, a todos, porque pode ser que você possa mais ouvir, nem dizer, e pode ser que seja amanhã, e talvez hoje.
É preciso jogar na cara de teus queridos, a toda hora, que você ama ele.
Um comentário:
Que notícia desagradável, Well.
Sei o valor de uma avó, porque senti muito quando perdi a minha, já com 90 anos e com braquicardia, que não chega a ser doença, apenas o c0ração bate cada vez mais lento, pela idade.etc...
Mas meu irmão, você descreveu na postagem. Éramos muito unidos, nunca nos despedimos sem um forte abraço e o famoso EU TE AMO. Não é redundante quando se diz com a alma, quando todo o ser vibra.
Depois que minha mãe morreu, em 1999, ele não suportou viver no Rio. Era forte,, bonito, falava oito idiomas e foi embora para os Estados Unidos da América. Encontrei-o por acaso num shopping, quando ele me contou. Fiquei sentida, mas feliz pela atitude dele, que vibrava em ir para lá. Pois bem, neste dia, desejei boa sorte, mas a voz embargou e não saiu o EU TE AMO. Fiquei olhando e vi que ele se dirigia a uma loja para comprar umas roupas, eu com uma vontade enorme de não perdê=lo de vista e abracá-lo forte. Pressenti que seria a última vez, e nada fiz. Apenas fiquei parada olhando. Falávamos todos os dias. E no último diálogo por e-mail ele me disse que estava muito feliz, mas que queria voltar. Dei a maior força, mmas meu pai, não. No dia seguinte, aos 40 anos ele foi dormir e ainda dorme, pelo menos para mim.
Acontece que "coisificaram o "eu te amo". Soa falso quando não é verdadeiro, e isso faz com que pessoas que realmente se amam, tenham uma objeção em repetir, o que banalizaram.
Você e sua família estão certíssimos. Beije muito sua avó, fça tudo o que sempre quis fazer e que a imbecilidade humana impede.
Não tenha vergonha, nem se poupe. É isso, é esse amor que transcenderá com ela.
A culpa é a pior coisa do mundo. Você não sabe o dia, mas continue tratando-a como sempre, mas com um amor mais forte, para que ele, ao abraçá-lo sinta.
Conte comigo. Ela estará bem, pois foi amada a vida toda.
Beijos
Mirse
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