sábado, 24 de janeiro de 2009

MANUEL BANDEIRA À MANUEL BANDEIRA.



Testamento

Manuel Bandeira


O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

2 comentários:

Unknown disse...

MARAVILHOSO, Wellington!
Sei que o que escolhe , é um pedacinho de sua alma, de seu pensar. Você é mestre nisso!!

Amei!

Parabéns, meu amigo!
Saudades

Mirze

Unknown disse...

Veja se não se assemelha ao seu pensamento:

Poética

Estou farto de lirismo comedido
do lirismo bem comportado
do lirismo duncionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de esceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto, não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretária do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar as mulheres, etc

Quero antes, o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
_Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira

Beijos amigo querido!!

Mirze