quinta-feira, 30 de julho de 2009

A MUSA DIFUSA




Se fosse fácil já teria dado basta.

Mas ela basta, e sem ela tudo falta.

E se me irrita, titubeia, vacila,

Me conformo, pois sem ela eu sou a sombra.

Em minha cidade ela paira onipresente,

Em minha vida ela reina como um sol,

E tudo dela me fascina, me deleita,

Não digo, não digo ruim, mas é assim.

Sua figura, seu jeito, seu olhar e andar, dizem de onde ela é, o que não se diz, nem supõe, nem prevê,

É o tamanho que ela ocupa no pequeno dos meus gostares.

Sua ida a lugares santos, profana os altares,

Não por ela pecar, mas por ser o pecado,

Que inconsciente de ser, dá ao pecado o ingênuo

Que me levou a perdição.

Ela é vivaz, linda e sapeca, um sorriso de menina(frase idiota, sei disso)um estar que como queria o poeta, deixa o ar mais volátil.

Sim, é a musa, indo e voltando, sempre e bela, e única, e linda. Embora não esteja, ela está, embora não seja, ela é, embora briguenta, é ela, minha musa. A musa oculta no shoping.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

MISTER GOOGLE





O google é o que sabe tudo, é o que faz de idiotas, gênios, e acabou com o ignorante. Não muito tempo atrás, o cara só citava livros e autores que de fato conhecesse e lesse. Hoje não. O cara cita Shakespeare, Goethe, Voltaire, Rimbaud, Dostoievski, machado de Assis, tolstoy, Balzac, Platão, enfim, cita os grandes, que nunca leu, e passa por culto.

Li muito, hoje não leio quase nada , com exceção de Shakespeare e João Cabral, mas aviso: sou um autodidata, menos que um intelectual , mais que um apedeuta (gosto dessa palavra, por lula ter sido assim chamado por Paulo vereza, como acho lula uma anta, e sou contrário a tudo que seja referência aquela abominável criatura de barba, emprego-a com relação a mim ou o que fosse o revés de mim.) li ótimos livros, várias vezes, e acho a maior idiotice do mundo o cara que lê Jorge amado. E não é implicância com Jorge, é com todos esses livros inúteis que se lêem pela vida afora para se parecer culto.

Li livros clássicos, só gostava deles e só gosto deles . fim de papo. Hamlet eu li em livro, no barato, umas vinte vezes, filmes com o Gibson, branagh(o melhor), lawrence Olivier. Já li Hamlet na net de uma sentada. E não vejo razão para ler livros menores. Nelson Rodrigues conta que certa feita um sujeito com ar de Google(o que sabe tudo) perguntou o que ele havia lido, e o Nelson disse: Dostoievski. O sujeito então disse: sim, e o que mais?

E ele: Dostoievski.

Depois ele conta em suas crônicas(que devem ser lidas) que um ser o sujeito pode viver para um livor de Dostoievski, mas não precisa ler coisas inúteis. Tudo bem, nenhum escrito pode ser útil, e se é ,não é literatura. Você precisa ler Shakespeare todo, ai verá que depois disso, existe uma grande inutilidade em se ler, sinceramente, quem lê Shakespeare, não vai querer ler Saramago. Falo de pessoas normais, não intelectuais. Li menos de uma centena de livros, desconsiderando as releituras, e digo: Nelson acertou, mais uma vez ao dizer: ler pouco, reler muito.

Machado de Assis ou Chico Buarque?

Montaigne ou Nietzsche?

Platão ou esses livrecos de auto-ajuda?

Fico sempre com a primeira opção. E sobre todos Shakespeare, e sobre o bardo, o GOOGLE.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

JOÃO CABRAL DE MELO NETO






Pedem-me um poema




Pedem-me um poema,
um poema que seja inédito,
poema é coisa que se faz vendo,
como imaginar Picasso cego?

Um poema se faz vendo,
um poema se faz para a vista,
como fazer o poema ditado
sem vê-lo na folha inscrita?

Poema é composição,
mesmo da coisa vivida,
um poema é o que se arruma,
dentro da desarrumada vida.

Por exemplo, é como um rio,
por exemplo, um Capibaribe,
em suas margens domado
para chegar ao Recife,

onde com o Beberibe,
com o Tejipió, Jaboatão,
para fazer o Atlântico,
todos se juntam a mão.

Poema é coisa de ver,
é coisa sobre um espaço,
como se vê um Franz Weissman,
como não se ouve um quadrado.

TE AMO, BOBA.





De algumas pessoas, raras, podemos dizer: quando vai crescer? Quando deixará de ser menino?

Essas pessoas são crianças eternas, nunca deixarão de ser. E sua alegria é igual a de uma criança, e sua maneira de agir.

Ela pisca os olhos com muita lentidão e tinha um olhar, que de tão sofrido, de tão sentido, me comoveu. Hoje ela não tem mais. E eu sou parte disso. E agora escrevendo isso, fico comovido, porque não tenho nada a esconder. Falo de Mirse, de nossa amizade, de nosso carinho, e sobretudo de sua afeição a mim, e a minha a ela.

Amigo é tudo. Disse a Elaine, um ser que eu amo muito, que para mim o amigo é superior aos outros, que em uma estádio de futebol lotado, se ela estivesse, seria ela, o resto é figurante.

Não gostava de Mirse, ela fez-se querida. E repudio os que encontram razão para isso fora da esfera do gostar, do simples gostar. Porque não vendo, nem troco, nem negocio carinhos.

Temos conversas hilárias, ela tem medo que eu brigue com ela. Ela perde nas disputas das músicas do Chico e diz que ganhou. Ela é criança, e eu nunca vou magoá-la, não porque finja para agraciar-lhe a alma, não porque me é generosa. Nada disso. E também nada de pena, nada de falsa amizade, baseada no fingir, no calar. Nunca vou magoá-la por ter uma responsabilidade sobre o seu semblante, antes condoído, soturno, agora mais alegre.

Ela perdeu um filho, pode ser que projete em mim esse filho perdido. Ela perdeu um pai com a mesma doença que tenho, e talvez venha daí o seu desprendimento, seu zelo, sua dedicação. Porque sou seu filho, seu pai. Mas eu sei que isso que motiva nossa amizade é bom, é justo, é humano, é amor.

Mirse, eu te amo!

Boba.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

MÃE DO ANJO

Havia a mãe sofrida de uma criança natimorta, e o não-poeta que tolhido em seus movimentos, achava lindo o filho dela. E o não- poeta, embora se pretendesse frio, como um poeta de diamante ou cacto, sangrava à dor dela. Ela sofria uma dor intensa, ninguém podia mais que ela a dor dela, mas o não-poeta sentira o peso de não ser poeta, mas sentir as dores alheias com tal intensidade, com tal vínculo ao que não se prende a ele, que melhor seria não ser um não-poeta, nem poeta, não ser nada.

E ela, que fora mãe de fato, embora não achasse, desiludia-se com a não companhia do anjo, com sua não realização de colo, de peito, de lavar fraudas. E ela se esquecia, e isso ela talvez nem tenha atinado, que lavar fraudas é passível a mim, dar à luz não.

E o não-poeta se aflige em dizer que não existe não-mãe, ou ex- mãe, ou mãe mal sucedida, ninguém é mais mãe por ter um filho com 30 anos. Se o teu não ficou contigo, paciência, Deus saberá porque, não cabe a ti a causa, nem ele te deve satisfação de pegar de volta o que era dele. Mas para que o nada existisse, e a consciência adquirisse corpo, ainda que por horas ou menos que isso, Foi preciso teu ventre, tua carne, você.

Deixo de ser pai quando não estou com meu filho? Ou sou menos pai? Ou um meio pai?

Não, definitivamente não!

A mãe pensa, triste, melancólica: -fácil dizer isso, o teu está com a mãe, te beija e você sente ele, e eu não tenho isso.

Ai lamento, fico com raiva de mim, de ser um não-poeta, porque eu enfeitaria as palavras, as confeitaria e as dava a mãe, que acha que não é mãe. E veja que curioso, eu, um não- poeta, tentando acarinhar a mãe, que acha que não é, mas é, eu queria não achar-me poeta e ser, como sei que não sou, respondo a minha questão, posta por mim, e respondida por mim.

Eu não deixo de ser pai quando meu filho está com mãe, é fato. Mas você deixa de ser mãe quando teu augusto está com Deus?

A diferença é que o meu, estando com a mãe, pode vir final de semana . Você terá que ir ao encontro do teu, ninguém o trará de volta, se quer vê-lo, terá de ir ao céu. Porque ele, TEU FILHO, está lá, e te quer ver, te beijar, te dar o consolo de que precisas. A mãe do anjo entristeceu a ele, e ele ficando triste,entristeceu o Pai, que usou o não-poeta para dizer a mãe que acha que não é, que reze, redobre a fé, porque a fé dela contagia, e fez do não-poeta, um ser melhor, e que se quiser ver o filho que ela insiste em achar que não tem, terá ter fé, ir ao encontro dele.

terça-feira, 21 de julho de 2009

DEU COELHO.





Perguntei a pitocudo: qual o bicho de hoje?

Ele disse: coelho!

Minha mãe, do alto de seu vasto conhecimento de jogo de bicho, reage com veemência: já deu meio -dia!

Fiquei embasbacado com isso, pensei (não é sempre, mas de vez em quando penso) qual seria essa razão metafísica, misteriosa, mística, afirmar com tal certeza que não daria coelho por ter dado em outra extração.

Bom, fomos fazer o jogo em um cambista próximo, eu jogaria no palpite de pitocudo, eles que arrumassem um bicho qualquer.

Chegamos ao cambista e me veio uma enorme pena desses banqueiros de jogo de bicho. Os pobres coitados devem estar na miséria, porque havia 4 pessoas no recinto(não é porque é jogo que tem de desmoralizar o ambiente) e todas as quatro sabiam que bicho ia dar. A cambista falava com a serenidade e convicção, com a inexorabilidade (gostaram?) e com a expressão convicta de que daria cachorro. Minha mãe aderiu, claro, e uma mulher que estava lá (de lindas pernas) iria fazer a “soma”. O que a vem a ser isso? Simples, você pega os vinte e cinco números da extração anterior, soma, e terá o resultado da extração ulterior(que não quer dizer fora do útero, e sim posterior, depois) funciona? Claro, desde que levados outros fatores em consideração, que só serão descobertos depois do resultados, ai se descobre que se fez uma má leitura dos números, que nunca mentem, mas omitem.

E pasmem, a soma indicou cachorro, e em meio a toda essa indicação, essa convicção, surge um grito: a data!

Ontem foi dia 20, e 20 é cachorro, seria barbada!

Então, como no teatro, aparece outro cambista e diz que pela “lógica” não era para ter dado o bicho que deu pela manhã. Ai estourei: e tu já viu jogo de bicho com lógica, chifrudo?!

Deu coelho, no segundo prêmio, ganhei. Não deu nenhum cachorro.

segunda-feira, 20 de julho de 2009


ESPELHO CRISTALINO


ALCEU VALENÇA



essa rua sem céu, sem horizontes
foi um rio de águas cristalinas
serra verde molhada de neblina
olho d'agua sangrava numa fonte
meu anel cravejado de brilhantes
são os olhos do capitão corisco
e é a luz que incendeia meu ofício
nessa selva de aço e de antenas
beija-flor estou chorando suas penas derretidas na insensatez do asfalto

mas eu tenho meu espelho cristalino
que uma baiana me mandou de maceió
ele tem uma luz que alumia
ao meio-dia clareia a luz do sol

que me dá o veneno da coragem
pra girar nesse imenso carrossel
flutuar e ser gás paralisante
e saber que a cidade é de papel
ter a luz do passado e do presente
viajar pelas veredas do céu
pra colher três estrelas cintilantes
e pregar nas abas do meu chapéu
vou clarear o negror do horizonte
é tão brilhante a pedra do meu anel

domingo, 19 de julho de 2009

EU TE AMO!



















Meu filho amanhã se manda, terminaram as férias dele. E eu vou fazer o que sempre faço, um agradecimento, a Deus, não a meu filho.

Agradecer por ter me dado ele de presente, numa hora difícil, duríssima.

Bom, ele vem sexta, não há que se fazer drama, não há o que chorar.

Só que não é o que se passa, só que não é o que se dá.

Quando ele vai pra casa da mãe, tem de arrumar a bolsinha dele, colocar as roupinhas dentro, e me dar um beijo. e eu fujo a essa cena, sempre. Não quero ver ele sair. E não me venha com história de que ele virá sexta. Virá, mas não poderei dizer a ele que Michael Jackson era vascaíno para aumentar o brio de pequeno vascaíno, cujo time está na segunda divisão e devem jogar na cara dele isso a todo momento.

Ele virás sim , e será breve, mas durante esse intervalo talvez ele chore, e talvez ninguém o console ou mesmo diga que ele está errado.

Nesse intervalo, poderão ensinar-lhe algo que ele não deveria saber agora, ou nunca. Não rezaremos juntos à noite, e eu tentando me conter para não rir durante nossas orações, porque ele troca os pronomes possessivos das ave-marias e pais nossos. É cômico porque ele faz de nós deuses. Ele diz: “seja feita a nossa vontade”.

É, quatro dias não são nada, passam logo. Mas e se ele apanhar de uma criança muito menor que ele, pensar em revidar e eu não estiver perto, e dizer-lhe: sabe o história de cristo? E contar-lhe o que Cristo falou sobre dar a outra face.

São quatro dias, eu dramatizo, exagero, mas são quatro dias! Quatro dias em que algum filho da puta o ensine porcarias, em que ele caia, arranhe o joelho, e eu não posa consolar. A mãe dele o fará, Mas eu não. Porque estarei longe.

Pronto! Sabia no que daria esse texto. Farei sempre, mas sempre, um homenagem ao meu filho neste blog, sempre. Porque o amo, como um ser que segura uma vela e sabe que daquela vela depende sua vida, ele é minha vela, por isso preservo ele, minha vela branca.

Amanhã ele irá, e quando olhar para cama de noite ele não estará lá.

Tudo bem, sexta estará, mas sexta-feira me parece longe, distante.

Eu não quero o que as pessoas querem, sou muito mais humilde nesse sentido, não quero ser atleta, nem lindo, nem poeta, nem nada, quero não tomar comprimidos e fazer sem eles o que todo mundo faz, e quero ver meu filho crescido e sentir o beijo dele no meu rosto, quando chegar minha hora.

Quando ele me chama de pai, e o faz a cada 5 minutos, porque o cara pergunta, tá doido!

Tudo ele pergunta, e se você sabe ele nem liga, mas se você não sabe ele solta o famoso, “eita, mas tu é burro, visse?

Queria-o aqui, sempre, nem que para me chamar burrice, nem que para olhar ele dormindo, porque é nisso (ver ele dormindo) que respiro, que me elevo, que Deus se aproxima.

Deixo aqui uma canção que fiz, pela qual tenho um imenso orgulho de ser minha, lembrei por esses dias e disse a ele, e ele Lembrou, talvez não, talvez só tenha querido me agradar, mas vai a letra dessa obra-prima, dessa pérola:

“-deita gostosão, deita gostosão, deita com o papai.

-eu não deito não!”

Simples, ingênua, tosca? Não, não é mesmo. Mas quem não entende isso, seguramente não entenderá o porque de quatro dias, fazerem tanta diferença e provocar meu choro, e me levar a dizer: FILHO, EU TE AMO!



salmo

chico buarque

Composição: Edu Lobo / Chico Buarque

Meu corpo está sofrendo
É grande o meu torpor
Eu vou enlanguescendo
Rendo-vos mil graças, meu Senhor

Conturbam-se meus ossos
Meu vulto perde a cor
Minh'alma está confusa
Fustigai-me, meu Senhor

Meu Deus abri-me as portas
Da eterna servidão
Lançai-me vossa cólera
No templo de Sião

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TE AMO, MEU BEBE. OBRIGADO POR MAIS UM MÊS DE SONHO. DEUS TE ABENÇÕE.

O EXU MAIORAL





Harold bloom, um vetusto crítico literário americano, coloca Shakespeare na categoria acima dos humanos, segundo ele, um deus mortal.

De qualquer outro ponto de vista ele estaria errado, do ponto de vista literário, não.

Qualquer um, não precisa ser um Bloom, que lê Shakespeare, e o confronta com outro autor, sente a diferença brutal, os outros, os mestres da literatura, fizeram literatura, Shakespeare foi além.

As qualidades literárias dele são tantas e tão fabulosas, que coisas que amamos em um escritor, ele tem em muito, mas muito mesmo, maior intensidade, densidade, que os que escolhemos pela única do escritor normal.

Explico: quem ama Guimarães rosa, ama pela sua capacidade criativa no domínio da palavra, suas criações lingüísticas. Só por isso, mais nada. E o rosa é um gênio, um criador, um excepcional da literatura brasileira e mundial, e o próprio Bloom reconheceu isso.

Pois bem, pegue o Rosa, sob esse aspecto, analise sob este prisma, e compare com Shakespeare, rosa seria humilhado. Shakespeare usou em torno de 15 000 palavras. Uma quantidade assombrosa, inalcançada, mas o feito maior, foi criar palavras que viraram palavras de fato, expressões, que viraram expressões de fato, as vezes até complexas. Ninguém diz, sem recorrer a explicações do porque está dizendo, “pão ou pães é questão de opiniões”, ou “no bobo das coragens”, sem dar uma explicação, sem citar o autor, ao passo que você diz coisas como: “há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe tua filosofia” ou “meu reino por um cavalo”. Quanto as palavras, e na criação delas, basta dizer que no dicionário Oxford, existem 2000 palavras introduzidas na língua inglesa por ele. E para encerrar, se o assunto é importância na criação da palavra, ou coisa que o valha, é fácil saber quem tem mais importância, basta dizer que Shakespeare mudou e pode-se dizer sem exagerar, que recriou um língua, o rosa, nem sonhou isso, porque era acima de suas capacidades. Veja só, não estou diminuindo Rosa, ele foi um gênio, um criador, um escritor com talento e força enormes, que comparado a outro, de qualquer tempo, de qualquer lugar, não faria feio, com Shakespeare a comparação é desvantajosa, não digo humilhante porque não chega a ser humilhação perder para Shakespeare.

Mirse comentou um post meu, e concordou com Shakespeare, mas poderia ser o contrário?

A argumentação shakesperiana é simplesmente incontestável. Seja o bem falando , seja o mal. A capacidade de raciocínio e psicologia do bardo é inigualável, espetacular. Você lê Ricardo III e duvida de que ele possa seduzir a cunhada no momento de enterrar o marido. Ele o faz e usa argumentos convincentes. Iago convenceria qualquer ser humano a qualquer coisa. Tende-se a se achar Otelo, um ser fraco, ciumento, e ter um certo repúdio pela sua figura. Errado, Iago faria do menos ciumento dos homens, um Otelo, porque Otelo não era Otelo, Iago o fez assim.

Defendendo qualquer ponto de vista, Shakespeare dá uma mirada nova, um jeito de ver o que se via de maneira única, nova e inesperada

sábado, 18 de julho de 2009

WILLIAM SHAKESPEARE




"Essa é a maravilhosa tolice do mundo: quando as coisas não nos correm bem - muitas vezes por culpa de nossos próprios excessos - pomos a culpa de nossos desastres no sol, na lua e nas estrelas, como se fôssemos celerados por necessidade, tolos por compulsão celeste, velhacos, ladrões e traidores pelo predomínio das esferas; bêbedos, mentirosos e adúlteros, pela obediência forçosa a influências planetárias, sendo toda nossa ruindade atribuída à influência divina... Ótima escapatória para o homem, esse mestre da devassidão, responsabilizar as estrelas por sua natureza de bode. Meu pai se juntou a minha mãe sob a cauda do Dragão e minha natividade se deu sob a Grande Ursa: de onde se segue que eu tenho de ser violento e lascivo. Pelo pé de Deus! Eu teria sido o que sou, ainda que a mais virginal estrela do firmamento houvesse piscado por ocasião de minha bastardização."

quarta-feira, 15 de julho de 2009

DOIS TUMORES




Meu pai é chato, toda minha família o é. Minha família é brega e chata, menos eu. Mas mesmo meu pai, que é o chato-rei da família, perde para minha avó. Essa, ultrapassa o limite da chatice humana, porra! A chatice dela permeia o seu ser.

Minha avó reclama de tudo, está sempre de mau humor, e nós ficamos acostumados em ela ser chata demais, por isso sua chatice virou folclore, anedota.

Minha família é chata, tem poucos membros, todo mundo se chama de idiota, ironizam uns aos outros, minha família não briga, nunca, e se briga, desbriga logo. Minha família é chata, e eu já disse isso 300 vezes, o que pode levar alguém a achar que eu sou chato. E perguntar:- essa é a característica principal de sua família?

Não, de modo algum. Minha família tem uma característica, não morre. É isso, minha família não morre. Ninguém morreu até hoje. Minha família é um ovo, tem meia dúzia de membros, então não pode morrer, porque somos dependentes uns dos outros, somos parasitas amorosos, somos o amor.

Ok, semana passada meu pai ligou pra minha irmã, e quebrou o sonho, minha vó vai morrer, minha vó está com dois tumores malignos.

A morte de minha avó não é uma coisa estranha, não poderia se dizer um acontecimento inesperado, ela tem 86 anos. Eu choro muito, mas muito mesmo, porque ela é chata, nada mudará isso, mas é minha avó.

Esse é um texto ridículo, se eu lesse em um outro blog, se não tivesse escrito, acharia um horror. Mas minha vó, uma pessoa chata, vale para mim, dez shakespeares, e toda a literatura do mundo. A morte não redime pecados, mas faz ver que temos olhos curtos, somos frágeis.

Amanhã vou ver minha avó, dar-lhe-ei um abraço e pensarei mais no cuidado com os outros de minha família, porque no caso dela a morte avisou, na de outros pode não avisar. É idiota dizer: “nãopreciso dizer que te amo, você sabe que amo.”

Tem de dizer: eu te amo, pai, irmã, filho, amigo, cachorro, mulher, a todos, porque pode ser que você possa mais ouvir, nem dizer, e pode ser que seja amanhã, e talvez hoje.

É preciso jogar na cara de teus queridos, a toda hora, que você ama ele.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A SALVAÇÃO DE JOÃO CABRAL




O OVO DE GALINHA

JOÃO CABRAL DE MELO NETO


Ao olho mostra a integridade
de uma coisa num bloco, um ovo.
Numa só matéria, unitária,
maciçamente ovo, num todo.

Sem possuir um dentro e um fora,
tal como as pedras, sem miolo:
é só miolo: o dentro e o fora
integralmente no contorno.

No entanto, se ao olho se mostra
unânime em si mesmo, um ovo,
a mão que o sopesa descobre
que nele há algo suspeitoso:

que seu peso não é o das pedras,
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.

II

O ovo revela o acabamento
a toda mão que o acaricia,
daquelas coisas torneadas
num trabalho de toda a vida.

E que se encontra também noutras
que entretanto mão não fabrica:
nos corais, nos seixos rolados
e em tantas coisas esculpidas

cujas formas simples são obra
de mil inacabáveis lixas
usadas por mãos escultoras
escondidas na água, na brisa.

No entretanto, o ovo, e apesar
de pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.

III

A presença de qualquer ovo,
até se a mão não lhe faz nada,
possui o dom de provocar
certa reserva em qualquer sala.

O que é difícil de entender
se se pensa na forma clara
que tem um ovo, e na franqueza
de sua parede caiada.

A reserva que um ovo inspira
é de espécie bastante rara:
é a que se sente ante um revólver
e não se sente ante uma bala.

É a que se sente ante essas coisas
que conservando outras guardadas
ameaçam mais com disparar
do que com a coisa que disparam.

IV

Na manipulação de um ovo
um ritual sempre se observa:
há um jeito recolhido e meio
religioso em quem o leva.

Se pode pretender que o jeito
de quem qualquer ovo carrega
vem da atenção normal de quem
conduz uma coisa repleta.

O ovo porém está fechado
em sua arquitetura hermética
e quem o carrega, sabendo-o,
prossegue na atitude regra:

procede ainda da maneira
entre medrosa e circunspeta,
quase beata, de quem tem
nas mãos a chama de uma vela.

Já postei uma vez, torno a postar, e acresço: quem faz um poema assim, nesse nível, com um ovo de galinha, não está na categoria dos seres humanos normais.

sábado, 11 de julho de 2009

12 DE JULHO




No dia em que faço 34 anos me assombro com isso. Minha aparência é de muito menos, uns dois anos eu diria, mas cheguei aos 34º ano de vida, e considero um feito. Sim, e em que isso é um feito?

Bom, não chega a ser um feito os 34 anos, mas sim a maneira como os vivi. Bela resposta!

Que maneira?

Essa coisa de criar um interlocutor interior, que pergunta mais que o cão, vai bem em machado de Assis, embora eu ache a comparação despropositada...

Respondendo ao diabo machadiano: nunca matei!

Mozart, Shakespeare, Rimbaud, Noel rosa Newton, Albert Ainstein,com menos de 34 anos já haviam construído o pedestal deles e nunca, pelo que sei, mataram ninguém.

Eu revido, digo ao aborrecido diabo machadiano: todos os de tua lista, querido, ou por outra, horrendo ser, foram anormais, não podem ser padrão. Ok?

Cão é cão, e ele insiste: -então teu padrão é a mediocridade?

Então passo a questioná-lo, viro o cão do cão, digo-lhe: então falemos dos maiores, ou de um só, do que precisou de menos de minha idade para ser o maior, esse venceu tudo, inclusive você, propositor da dúvida. Paro aqui com isso.

Jesus cristo, é desse que quero falar, sem reservas, sem brincadeiras, sem querer ser intelectual, quero falar dele sim, muito, e de joelhos dobrados, com lágrimas nos olhos, sem reserva alguma. E farei uma prece a ele no meu aniversário. É esta:

Pelas vezes em que eu duvidar, piedade!

Quando usar de maldade com alguém, reconheça o erro, me arrependa e tente consertá-lo.

Que minha arrogância se contenha, minha inconstância seja transformada em constante, mas constante calma, para ver o que me revelas e eu não vi ou não quis ver até aqui.

Tende piedade de mim, por que o que me foi dito bom, e muitas vezes era, não me impediu de chorar, não me fez melhor, nem me deu paz.

Venho a ti porque o que não foi contigo não foi meu, só me passou pelos sentidos, e não resta mais o que me aprazia e eu sei que nem o que eu pudesse ter de volta me aprazeria mais.

Perdoa-me pelas queixas sobre minha vida, porque, cego, reclamo de minha doença, de meus sofreres, mas não me detenho no sofrer alheio, no sofrer do outro, que tendo muito mais méritos que eu, sofre uma dor maior, e não reclama, e se compraz na dor, não por conformismo, mas por otimismo, por esperar em ti.

peço desculpas a quem magoei, e tento me retratar com eles.

No dia em que completo 34 anos, me sinto feliz, e agrado a deus por mais um ano, peço que não Seja o último, porque quero fazer e ver algumas cositas, quais sejam: meu filho grande, meu filho bem e minha cura. Porque vou ficar bom, vou ficar curado, só de raiva, de pirraça, e nesse dia, no dia em que eu puder olhar no olho do meu filho e dizer: eu não disse a você?

Ele nunca me cobrou nada, para ele não há doença, mas ainda assim quero lhe dizer o de acima. Olhar no olho dele, antes azul, agora verde, olhar bem fundo, dentro da alma, antes da íris, onde o olho vira coração, e dizer: estou bom, estou curado.

Isso vai acontecer, não sei quando, e até lá vou piorar, vai doer mais um pouco. Mas quem sofre com Cristo, sofre com um sofrer esperançoso, um não sofrer, uma alegria na dor.

Vou olhar para o meu filho, abraçá-lo, beijá-lo, e nesse dia, digo sem medo, sem dúvida, nesse dia, pode ser encerrado os meus dias aqui, porque estarei realizado, um dia, só um dia, com a certeza de ter vencido, de ter tocado o coração de Cristo, de ter vencido, com a missão cumprida.

Meus ídolos erram, morrem, suam, meus ídolos são fracos, bobos. Jesus não é meu ídolo, Jesus é meu apelo, meu desespero, minha lágrima, meu nervo, MEU SALVADOR.

E QUE MINHA LOUCURA SEJA PERDOADA, PORQUE METADE DE MIM É AMOR.
E A OUTRA METADE, TAMBÉM.

O CAÇADOR E SEU REMORSO




Como quando eu choro me lembro do bem quer me fazes, ou me fez e talvez não me faça. Ou o quanto eu destruo quando me sinto só. E ainda pelo que choramos, sim porque nunca fomos riso, sempre lágrimas, sempre amor, mas com lágrimas.

Quando eu tento te arrancar de mim, excluindo o teu texto como se o teu texto excluísse você. Ou quando te trato mal, e até te corto com palavras que te sangram, mas que me sangram mil vezes mais, porque em ti elas são aliviadas por não terem sido proferidas por ti, e em mim me desespera o te ver sangrando, sangrar, e saber que eu desferi o golpe, que eu assassino-vítima, réu que sofre a dor de ser criminoso, caçador com pena do que caça, algoz que desfere um golpe na própria perna, no coração do bicho, e descobre na dor da presa gemendo, que o que ele feriu não lhe é alheio, ao contrário, lhe de dentro, e ao ver o sangue do bicho quase que sem força, descobre que feriu o próprio coração.

terça-feira, 7 de julho de 2009

TUDO O MAIS É SILÊNCIO




Não havia visto nenhuma reportagem sobre Michael Jackson, porque sabia que choraria. Ontem passou perto de minha casa um desses carrinhos que vendem CDs piratas, comprei, queria ver o show dele, ele dançando, vivo. Só que o DVD que comprei não era de show, era uma seleta de reportagem sobre a morte dele. Não vi de imediato, mas à tarde de ontem vi um pouco. O que me espantou, aliás, me comprovou a péssima idéia que faço sobre a imprensa e o ser humano em geral, foi a maneira como a morte do astro foi tratada. Ora um gênio- coisa que Michael nunca foi-, ora um ser diferente de todos, um anjo ou diabo. Jackson era uma dançarino excepcional, um que fez de seu corpo um instrumento, um grande mágico de pessoas que sabem que magia não é sinônimo de coisa sobrenatural, tampouco crê em mágicos.

A vida de Michael foi medíocre. O que posso falar sobre ele concretamente, sem influência da imprensa, que foi de uma imprecisão e mentira sobre a vida dele, assombrosas, o que fica para mim de sua pessoa, é o episódio em que ele coloca um filho na janela e segura com uma só mão. Foi triste aquilo, horrível.

Existem alguns modos de se ver uma pessoa famosa, só um modo é certo: o da humanização dessa pessoa. Soa ridículo, ora humanizar o que já é humano?

Sim, exatamente isso. Porque temos a natural tendência de divinizar seres, fazê-los inumanos, quando são pessoas normais, sem sequer um brilho especial, como tem muitas vezes, pessoas de nossa relação, que onde chegam se fazem notar, não porque dançaram, ou exibiram uma habilidade específica para algo, mas porque emanam algo de especial, bom, apaziguador.

Quando falo do dançarino, do mágico, falo dele enquanto está dentro do sonho, do sonho dele, do meu, de todos. Sua pedofilia, sua exibição, sua vaidade, que o levou a fazer cirurgias plásticas para corrigir outras, sua egolatria, enfim, tudo o que fez dele um homem de uma vida anormal, tediosa e mesquinha.

Todo pedófilo é igual, e cabe a polícia cuidar deles. Nem todo dançarino (nenhum) foi igual a Jackson.

É esse o cara que me comove, o bailarino, o do palco, o dos gritinhos. Um que não foi santo, nem diabo, foi homem.

Quanto a parte musical, não acho grande coisa, embora também não ache o João Gilberto grande coisa, e ele seja o bambambam dos que entendem de música.

O que há é uma tentativa de fazer a lenda do palco sair dele, ou o contrário, fazer o medíocre ser humano, virar o bailarino dos palcos, quando fora dele.

Michael Jackson , foi um ícone de um tempo, talvez o maior, mas um homem, e um homem é só um homem, nada, nada mais que isso.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

UM ANJO




Porque a mim, não a quem de direito?

Mas não sei se foi ele, sei que foi calmo, bom, confortador. E eu, egoísta, preferi ficar só, preferi tê-lo perto, sem palavras, sem recados, sem mais nada. Olhando-me.

O anjo, era anjo sim, Gabriel, era Gabriel sim, embora não seja mais que fruto de emoções fortes e muitas de uma vez só. Sim, admito o delírio, porque emoções de uma vida, e lágrimas de mais de duas, vivi e verti ontem. Me passou paz, muita paz.

Isso não é um poema, nem seria se quisesse, é um relato, uma confissão. Odeio místicos e misticismo, repugna-me essa escória de embusteiros. O que senti ontem, no meu quarto, pode não ter sido o anjo que me parte o coração, porque não quis ser humano, ou era outra sua função, mas era anjo, sendo anjo sinônimo de quem é enviado de Deus, era anjo, isso é certo, não tinha asas, nem cachos dourados, nem sequer o vi, nem ouvi. Talvez fosse o bom de mim falando a mim mesmo, mas isso não é Deus?

Não me deu recados, não era assim que funcionava, era mais abstrato que o perfume. Continha tal abstração no que revelava não sendo, nem revelando, que não sendo e não revelando nada, me faz ter certeza de sua verdade, sendo ele próprio menos que uma brisa, na definição das coisas onde a brisa tem uma função e nome, e pode ser definida.

A única coisa que sei é de que não era ruim, e de que era supremo. Se foi uma confusão mental, se foi um delírio, foi bom, muito. A única coisa que sei, isso é material, isso é real, ele me tirou do pesadelo, e indicou Cristo.

E não houve nada entre nós que fosse alheio, isso me intriga. Nem recados, nem apaziguamentos, nada. Ele se ocupou de mim, isso me envaidece.

Foi bom, muito bom. Cada um tem problemas e os tenta equacionar da melhor forma: com remédios ou se matando. Ia dizer: e outra inventando anjos.

Que tenha sido inventado então, que seja. Foi anjo! Um anjo augusto, mesmo não sendo o Gabriel, mesmo não sendo o AUGUSTO GABRIEL, foi anjo, e acaba de me dizer porque apareceu a mim e não a quem de direito, aos que o geraram, ficou comovido com as lágrimas que derramei sobre o teclado que tem uma luz azul e foi caro, e não quer que eu cobre o prejuízo que sequer tive, e me achou pretensioso, porque quis reter-lhe, dar um recado seu. E entendi de imediato porque se foi, e ao se ir deixou o recado negado.

O recado?

Não há recado algum. Mas sei porque ele se foi sem recados.

ALGUÉM MANDA RECADOS A QUEM ESTÁ TODA HORA JUNTO?