quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PITOCUDO CRESCE

terça-feira, 27 de outubro de 2009

PITOCUDO DORMINDO









Vejo você dormindo, descanso teu sono e afago o meu cansaço imenso no teu ressonar, no teu dormir. Você dorme em mim. No meu coração, ursinho panda. Você fere em mim, e corta, a malvadeza, faz a maldade em mim ser mais maldosa ainda.
Quando adoeço, com um febre de mil graus, e com um ímpeto de destruir coisas, para depois carpir sobre o que matei, ou me revolto contra minhas possibilidades positivas, minhas boas inclinações, é você, não você acordado, não você desperto, você sereno, dormindo. O teu sono é meu descanso.
Você dorme lindamente, mas não é isso que eu mais gosto, o que mais amo é teu sono, teu ressonar, que me restitui energias, que me faz forte. É rapazinho de quase oito anos, não é comida, nem água, menos ainda o ar, o que me mantém vivo, é você.
Não é sono, o meu sono, que me descansa, é tu dormindo.
Canalhinha branco, que fará oito anos amanhã, não me importa o que achem as pessoas do que está escrito aqui, o meu desejo é que quando fores maior, com discernimento suficiente para ler aqui e entender o que se passa, entenda bem, como é.
Não pretendo que me admires, nem gostes de mim como eu gosto de ti, mas ao ler isso no futuro, e olha menino meu, talvez eu já não possa escrever, nem falar, e meus movimentos sejam tão lentos e rígidos como uma máquina, mas lendo isso que te escrevo hoje, um dia antes do teu aniversário, um dia lindo por ser véspera de outro dia lindo, fica sabendo de uma coisa: ninguém, mas ninguém mesmo, de tempo algum nesse lugar em que estamos, vai te amar tanto quanto eu, ninguém. E onde eu errei contigo, onde fui ausente ou for, me desculpe, mas nunca fui desamoroso contigo.
Não quero muito de ti, mas uma coisa quero, faço questão, pitocudo de minha vida, que quando eu não estiver contigo, por motivo qualquer, e você sem querer, ou não, se lembrar de mim, quando por um lapso qualquer você se lembrar do teu paínho, e eu estiver longe, ou além, não lembre do que te disse, do que te dei, do que fizemos, rimos ou brigamos, ou o que seja, lembra de uma coisa só, e que sequer você viu, lembra, de teu pai te olhando dormir, com tanta ternura, com o coração tão ardendo, como se fosse o último momento bom do mundo. Lembra de mim quando quiseres, mas não esquece o que não vistes, não esqueças de teu sono, não esqueças de que tudo que eu quis foi acertar contigo. Todos os pais são iguais, mas eu, moleque bravo, olhando para seu sono, agradecendo a Deus por você estar ali, fui mais pai do que todos os outros, por um instante, mas que nunca passou, vivo pelo seu sono.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

PITOCUDO VELHO.









Quando eu te ver mais velho, com expressão cansada e os enfados da vida, que destroem a criança que fomos e o nosso frescor, então não terás mais o teu jeito de menino, nem acreditarás mais que eu seja o melhor.
Não terás mais os trejeitos e os encantos que me fazem achar que o paraíso é algo próximo de uma coisa como teu olhar, e não blasfemo, moleque malandro e sério, porque teu olhar, quando eu lembro ou vejo em conversas contigo, me faz um cainho na alma, um bem tão enorme, que penso que antes de qualquer dor, por maior que seja, Deus me deu algo que me faz possível o peso, que impulsiona, que vem como um aviso: “o prumo, rapaz estouvado, louco, desregrado e inconseqüente, o prumo!”
És hoje o que encanta e deslinda o que seja treva, o que dissipa o mal de mim, o que me freia. Porque sou louco, carro de um guia louco e bêbado.
Amanhã, você mais velho, penso em você com rugas e me vem uma coisas estranha, uma imagem cômica de você no futuro. E no futuro te amarei tanto quanto hoje, nunca menos, nunca com menos carinho. E te digo o que não se deve dizer a ninguém, o que me faz péssimo pai, no sentido estrito de estragar o filho com excessivo carinho. Digo que aja o que houver, no tempo que for, onde for, não haverá modo de eu ser contra ti, nem desligar o nervo que liga teu nervo a mim, esteja você errado ou não. É isso, posso saber-te errado, mas não posso arrancar meu coração, posso te repreender, ser contrário ao que faças ou o que intentas, mas depois de executado, terei meu peito, meu choro, minha energia para ti.
Sendo este um texto de parabenização (sei que a palavra não existe, mas digo que é neologismo, ou só é isso quando é um intelectual que escreve?)
Parabenizo-o, e me arrisco a tentar imitar um ídolo inalcansável- dêem um desconto, isso é um texto amoroso, de um pai para filho que se dão tão bem, que se amam tanto, que dá coragem de o pai escrever algo relacionado a poesia cabralina.
Quando o filho do carpina nasce, no “morte e vida Severina”, chegam duas ciganas do Egito para “lerem” o futuro da criança. Bom, dado o desconto de um pai amoroso que quer agradar o filho, vamos lá:

DIGO E PREDIGO E ANTEVEJO UM FUTURO ILUMINADO, UM HOMEM QUE NÃO SERÁ FAMOSO, MAS REI EM SUA CASA.
DOS GATOS TERÁ O CHARME DA PREGUIÇA E OLHAR DISTRAÍDO, DOS ANJOS O OLHAR.
MAIOR, JÁ ADOLESCENTE, MURMURARÃO MOÇOILAS AO PASSAR DO MUSO. SE BEM QUE ISSO NÃO CHEGA A SER UMA PROFECIA, O CARA É LINDO! ARRASADOR!
DIRÃO ALGUNS QUE ISSO NÃO É O TEXTO QUE PROMETI, AO QUE REDARGUIREI QUE EU NÃO CHEGUEI AO PONTO DE IDIOTICE TÃO AGUDA PARA FAZER ALGO QUE REMETESSE A JOÃO.
OS QUE ME ACHAM CORUJA RESPONDO QUE NÃO SOU. O QUE SE DÁ É QUE ELE É MEU FILHINHO, E ISSO FAZ DELE(PORQUE SENTI SEUS CHUTES NA BARRIGA DA MÃE, POR TUDO QUE NÃO POSSO EXPRESSAR) O MELHOR, O MAIS LINDO E PERFEITO DOS SERES.
FILHO, NÃO HÁ O QUE DIZER ENTRE MIM E VOCÊ, HÁ AS NOSSAS CONVERSAS, HÁ NOSSOS BEIJOS, HÁ COISAS DE AMOR E AMAR, QUE É MELHOR CALAR, QUE NÃO DARIAM PARA EXPRESSAR.
EU TE AMO, FELIZ ANIVERSÁRIO, E QUE VOCÊ SEJA NO MÍNIMO FELIZ.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

É BOM QUE SEJA ASSIM








É só um cansaço, mas passa e até faz bem. E é bom que seja assim, porque eu não suportaria.
Por muito sofrer dores dos outros, me chamam insensível.
Pelo muito que amo, cínico. É o preço de ser poeta, é o fado de quem suporta tudo.
Mas não sou santo, minha solidão foi eu que busquei, meu deserto não foi sempre isso, era melhor.
Entenda, não me queixo, sei do preço, da vida, sei tudo, sou quem compreende, quem comeu do fruto e lançou o homem, antes só sujo, na sarjeta, no inferno.
E diante de tua raivosa pergunta, diante do que você formulou sobre mim na sua definição sem erros, tenho uma resposta objetiva, clara, sem contra-argumento, sem apelo à nada.
Não é lamento, é cansaço, nem é derrota, ainda estou no fim do jogo, há tempo. Não é arrependimento, não, não tenho humildade, não é nada que se explique, ou que se critique, ou a vontade de escrever um poema. Não sou poeta, nem escritor, nem veado, só quero colo, descansar, estou cansado.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CONDE DO BREGA E NIETZSCHE

CONDE DO BREGA CANTA: "O QUE EU FIZER ERRADO ESTÁ CERTO". NIETZSCHE DIZIA QUE HAVIA HOMENS SUPERIORES A OUTROS, E QUE AS ESTES ERA PERMITIDO ATÉ DISPÔR DA VIDA ALHEIA (DOS INFERIORES). BOM, SOU UM SIMPLÓRIO, NÃO PRETENDO SER NADA MAIS QUE ISSO, GOSTO DA PALAVRA, EMBORA ELA TENHA SIDO CORROMPIDA COMO TODAS.

SENDO UM SIMPLÓRIO, E SOU, PERGUNTO COMO IDIOTA, IDIOTA QUE SOU: O QUE FAZ UM HOMEM SUPERIOR À OUTRO? O QUE LEVA A ACHAR QUE MINHA VIDA É MELHOR E MAIS VIDA QUE A DE UM OUTRO?

MAS NÃO FICO SÓ NA PERGUNTA INFANTIL E SIMPLÓRIA (NÃO TENHO RECEIO DISSO, GRANDES FILÓSOFOS, E NÃO É O CASO, SE VALERAM DE PERGUNTAS SIMPLÓRIAS), PERGUNTO AOS QUE ME LÊEM, OU SEJA, A NINGUÉM, SE O FILÓSOFO ALEMÃO (PARA MIM UM GRANDE POETA) FOI SUPERIOR A SHAKESPEARE COMO QUIS, SE CONSEGUIU ATINGIR SUA META E ACABAR COM O CRISTIANISMO. EU RESPONDO, SIMPLORIAMENTE, CLARO. NÃO, SHAKESPEARE É O ESCRITOR A SER LIDO, JESUS O ÚNICO A SER SEGUIDO.

ENTÃO O ALEMÃO ERROU EM SUA AVALIAÇÃO PESSOAL. ERROU.

sábado, 17 de outubro de 2009

PARABÉNS AO POETA





O TEMPO LHE LEVOU OS CABELOS.
LHE DARÁ UM FILHO.
O TEMPO DÁ MAIS DO QUE TOMA AOS BONS.
OS ANOS O DEIXARAM MAIS FRACO,
NÃO LHE TIRARAM AS FORÇAS MAIORES,
POR ISSO ELE BERRA E NINGUÉM OUVE.
MAS HÁ UM GRITO QUE OUVIRÃO,
QUER PRESTEM OUVIDOS OU NÃO,
E NÃO É BEM UM GRITO, É EXPLOSÃO,
QUE MESMO NÃO SE ESTANDO ATENTO,
SE É LEVADO A PERCEBER.
SIM, SUA POESIA HÁ DE SER LEMBRADA,
SE NÃO PELA RAZÃO, PELA EXPLOSÃO JÁ FALADA.
PARABÉNS POETA, PELO FILHO, PELO TEMPO, PELA ESCRITA E PELO AFETO.

UM ABRAÇO DO VATE.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ONDE ESTAVAS?


Sei de mim, de meus invernos. De minha dor, de seus infernos. Mas não me queixo, espero.
Enquanto espero vejo o belo onde posso, desvio o olho do que não gosto, amando o gesto bom;
Não tenho medo de bala, nem de satanás, não de morrer novo, nem velho, nem de morte em morte, nem de sofrer, tenho medo de secar, de perder o amor. Morrer em vida, em vida severina.
Não busco salvação, já disse, busco colo, meiguice, olhar sincero, e muito vento no rosto, ou afago, ou que alguém me entenda, não que aceite, que entenda.
Porque quando me deres conselho,quando quiseres me ensinar algo, quando vieres com tua moral, teus princípios, teu “deus”, te direi que o Deus que creio e bom, o que crês, castiga, e quem castiga não é Deus, é o teu deus, um deusinho mesquinho, tacanho.
Quando me quiseres me mudar, ou me julgar, te direi: conheces a mim? Conheces a dor?
Onde estavas na noite de minha agonia?
Quando eu morri na primeira vez (depois disso mais mil) onde estavas tu?

domingo, 11 de outubro de 2009

MERDA!






Ontem, varanda da casa de meu pai, discutimos sobre questões profundas, e tivemos, eu, minha irmã e meu pai, um dos diálogos mais idiotas que a humanidade conheceu. Não há exagero, a conversa me deixou intrigado quanto a sanidade mental de minha família.. reproduzo aqui mais ou menos o tom da conversa.

Vamos aos participantes.
Minha irmã, anamélia, que diz que tudo de ruim ou de bom que acontece em um país se deve à sua colonização, dizia, em um arroubo de genialidade pura, que 2+2 nem sempre resultaria em 4 (é sério!), meu pai, defendia sua tese de sempre, que os americanos não prestam e eu entro em uma conversa desse nível para falar mais merda ainda.
E isso é literal, no meio de uma discussão sobre lógica, eu solto essa pergunta:
VOCÊ COME MERDA?
Veja bem, o que queria dizer era que mesmo partindo de convenções, de premissas não comprovadas, a lógica é perfeita, não pode ser relativisada, por não comprovada. Ninguém vai discutir se é certo ou não comer merda, no entanto.....
Bom, esqueçamos dessas merdas, falemos de outras.
Lula, novela, silas malafaia, flamengo....
Vou parar, chega de tanta merda!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

UM MENINO AUGUSTO.





Ano passado escrevi um texto sobre lu e Denis, que perderam um filho. Dia 20 fará um ano que o bebê deles se foi. Não me contenho, apressado que sou, falo do que não posso, nem quero calar. Esse será um texto sentimental, triste não, eivado de sentimentos, e já comecei bem, segundo minha irmã, a qual começar bem implica começar chorando.
Durante esse ano me envolvi com a morte desse bebê, não entendo o porque, ou o porque de tantas lágrimas por um ser que sequer conheci. Não sei explicar, mas vou tentar.
Toda dor materna me dilacera, por ser uma coisa que não posso sentir, e o que não posso sentir, por impossível, sinto na fantasia de um poeta, ou no olhar de uma mãe que perdeu um filho.
Quando vi a expressão de dor de uma amiga no MSN, desabei. Sou muito atento a expressões, olhares e risos ou choro.
Denis eu já conhecia, lu não. Então minha irmã me pediu um texto que deveria ser consolador. Não imagino como consolar um casal que perdeu um filho, então no texto pedia que chorassem e não tivessem vergonha. Mas o que me chamou atenção não foi o choro de lu, foi o de Denis. O choro de de uma mãe, quando da morte de um filho, é tão esperado e normal que não causa estranheza, é inexorável. O do pai não. É normal que ele chore, mas não desavergonhadamente, despudoradamente, como um menino. Admirei o choro dele, admiro o chorar dos que perdem e não choram contra o mundo, choram como poetas, choram não pelo que receberiam, mas pelo que dariam, não por egoísmo de querer para si, mas pelo que poderiam doar de si, subtraindo amor de si, e, numa impossibilidade exata, mas o que se sucede com nós, humanos, subtração que multiplica, que soma, que expande, que excede. Subtrair amor de si, dando-o a outro ser, sem qualquer interesse nos faz imensos, nos faz gigantes.
Chorei muito, ouvindo a mãe desconsolada me falar do filho, tive vontade, juro, de poder trazer de volta o menino, não me envergonho disso. De dizer isso.
Disse que havia me envolvido com a morte do menino. Não, não houve isso. Para mim, o menino de vocês nunca morreu, é vida. Não faço demagogia, falo o que sinto, e o que sinto é isso. Chorei pelo Augusto de vocês, choro ainda. Uma vez disse a Denis que ia à igreja preencher vazios. Não menti. Onde vou, ao mercado, ao portão, ou mesmo onde tenho medo de me perder de algo bom, vou para preencher vazios. Vou para fugir de algo ruim de mim. E o menino de vocês (lu e Denis), me deu paz, me deu descanso. Por isso falo dele, por isso chorei e choro por lembrar as lágrimas de vocês, porque sou grato a quem me deu a mão.
Dia vinte seria aniversário do pequeno Augusto. Será doloroso para pais. Mas se consolar não posso, posso lembrar que a morte ficou para todos, a vida depois dela só para os escolhidos. Tenho consciência que não serei um, mas o filho de vocês será.