domingo, 8 de fevereiro de 2009

JOÃO CABRAL DE MELO NETO







DESDE QUE LI CABRAL, E JÁ FAZ ALGUM TEMPO, FIQUEI IRRITADO COM DRUMMOND, E AINDA HOJE ACHO ABSURDA ESSA MANIA DE CHAMAR DRUMMOND DE "O MAIOR POETA BRASILEIRO, E NÃO SÓ POR SER INJUSTA COM JOÃO CABRAL, COMO INJUSTA COM MUITOS OUTROS POETAS. NUNCA VI NADA EM DRUMMOND QUE O QUALIFIQUE COMO O MELHOR, NEM ENTRE OS DEZ MELHORES ELE ESTÁ. MAS MEU ASSUNTO AQUI É JOÃO CABRAL. E JOÃO ERA BOM, PARA TODOS UM GRANDE POETA, PARA MIM, O MAIOR DE TODOS. DAS IDIOTICES QUE SE FALAM EM LITERATURA, E SÃO MUITAS, UMA MUITO COMUM É DIZER QUE JOÃO FAZIA UM POESIA CEREBRAL. POESIA CEREBRAL TODA É, UMA VEZ QUE TODA POESIA, COMO TODO O MAIS, VEM DO CÉREBRO. MAS O SENTIDO QUE SE DÁ A PALAVRA CEREBRAL É DE UMA COISA FEITA FRIAMENTE, MAQUINALMENTE, MECÂNICAMENTE, ISSO É TOLICE. NENHUM AUTOR DE POESIA, DE NENHUM LUGAR, ME FEZ CHORAR TANTO AO LER SEUS POEMAS COMO JOÃO CABRAL. MUITAS VEZES PELO CONHECIMENTO DO QUE ELE FALAVA, DE TER VISTO O LUGAR E AS PESSOAS DAS QUAIS ELE FALAVA, MAS MUITAS VEZES SEM SEQUER CONCEBER OS LUGARES E AS PAISAGENS DO POETA. TOMO DOIS EXEMPLOS DISSO. O PRIMEIRO É ESSE:



"THE COUNTRY OF THE HOUYHNHNMS"

Para falar dos yahoos, se necessita
que as palavras funcionem de pedra:
se pronunciadas, que se pronunciem
com a boca para pronunciar pedras;
se escritas, que se escrevam em duro
na página dura de um muro de pedra;
e mais que pronunciadas ou escritas,
que se atirem, como se atiram pedras.
Para falar dos Yahoos se necessita
que as palavras se rearmem de gume,
como numa sátira; ou como na ironia,
se armem ambiguamente de dois gumes;
e que a frase se arme do perfurante
que tem no Pajeú as facas-de-ponta:
faca sem dois gumes e contudo ambígua,
por não se ver onde nela não é ponta.



Ou para quando falarem dos Yahoos:
não querer ouvir falar, pelo menos;
ou ouvir, mas engatilhando o sorriso,
para dispará-lo, a qualquer momento.
Aviar e ativar, debaixo do silêncio,
o cacto que dorme em qualquer não;
avivar no silêncio os cem espinhos
com que pode despertar o cacto não.



Ou para quando falarem dos Yahoos:
não querer ouvir falar, pelo menos;
ou ouvir, mas engatilhando o sorriso,
para dispará-lo a qualquer momento;
ouvir os planos-afinal para os Yahoos
com um sorriso na boca engatilhado:
na boca que não pode balas, mas pode
um sorriso de zombaria, tiro claro.

3 comentários:

Moacy Cirne disse...

Meu caro, como você, não considero Drummond o melhor poeta brasileiro. Entre os dez melhores, talvez... Os meus preferidos, no mesmo patamar criativo, são Murilo Mendes e João Cabral. Mudando de assunto, o endereço do Balai Porreta é: balaiovermelho.blogspot.com /Um abraço/.

WELLINGTON GUIMARÃES disse...

MOACY,

PONDERAÇÃO NUNCA FOI O MEU FORTE. ESTARÁ NA LISTA SIM, MAS EM DÉCIMO.

UM ABRAÇO.

Unknown disse...

MARAVILHOSO!!!!
O poema e o vídeo. Foi bomouvir o Veríssimo, o Ferreira gullar, meu vizinho, a Adrianaeóbvio o Chico lindo Buarque de Holanda. Aliás, concordo com o Chico. Não dá para comparar GRANDES poetas. Eu disse GRANDES. Quando se lê João Cabral, pelo menos eu, fico tão embevecida e estupefata, que quero mais e mais. O mesmo acontece com outros grandes poetas. Mas é imcomparável a perfeição da engeharia (não mecânica), do estudo minucioso de cada reflexão.
Acho que por isto ele tinha dor de cabeça. Era perfeccionista e depois de feito o poema, certamente o refazia para exigir e retirar o máximo da palavra.

Parabéns, Wellington. Bom gosto, sempre foi o seu forte.

Beijos carinhosos

Mirze