quarta-feira, 1 de outubro de 2008

DOIS POEMAS DE MARCELO NOVAES


ONDE MORA O VENTO


O vento se tornou úmido,
porque a chuva desabou
nostalgias valsas e polcas
polonesas sobre as telhas
de nossas casas, e
sobre as nossas
cabeças
pensas.
O vento se tornou úmido,
porque atravessou cidades
inteiras e antigas demais,
de onde os homens haviam
partido em missões
militares,
e os meninos já estavam
sendo treinados para
substituí-los.
E as mães ainda choram
como sempre choraram.
E as viúvas sempre choram,
como choram as folhas e
murcham
depois,
como choram e uivam os lobos
os ogros os ursos pretos dentro
dos muros
altos.
Dá para ouvir-lhes os apelos
e pedidos de socorro,
com ouvidos coladosa
os tijolos cozidos,
dá pra reproduzir-lhes o choro
antigo pelas fendas e arestas
crespas, pelas reentrâncias e
crestas que o tempo a todos
empresta.
O vento também é úmido e
mais húmido porque cheio de
húmus quando vem e venta
de antigosportugais,
porque também traz o gemido
das ovelhas e outros animais e
vultos que ainda moram nas
aldeias ancestrais da Ilha daMadeira,
que é onde venta mais.


UM MANTRA PARA JOSÉ ANCHIETA

Através de minha voz,
asas entrarão no meu peito,
e elevarão meu sentimento
ao Alto.Através de minha voz,

a pedra será liquefeita
e escorrerá pelo vão da terra,
alimentando a colheita, quando
eu recitar meu mantra.

Através da minha voz,
eu trarei à cena,
pelo ar, no tempo,
as palavras escritas na areia
porJosé de Anchieta.

Através da minha voz,
os homens acenderão antenas
na cabeça, e terão olhos nos dedos.
Através da minha voz,
eu reedificarei o mundo,
- ao menos o meu mundo
-,em dois meses e meio.

Um comentário:

Anônimo disse...

...o vento se tornou úmido...e as mães ainda choram como sempre choraram. Estas duas partes se unem e se condesam. O poema é lindo!

"Através da minha voz, asas entrarão no meu peito e elevarão meu sentimento ao ALTO.

Não há o que dizer, o Cara é Genial! Ainda jovem, e com este background de conhecimento que de nada adintaria se não soubesse usá-lo.

Bela escolha, Wellington.

Parabéns,

Beijos

Mirze